domingo, 12 de outubro de 2008

A origem da crise é muito além do sub prime

É impossível querer separar o mercado financeiro do mundo real da economia, na indústria, no comércio, no agronegócio e nos serviços. Praticamente todos os negócios dependem do fluxo de capitais do mercado financeiro, assim como a recíproca é verdadeira. Sem o movimento da economia real, aquela que efeivamente produz mercadorias e serviços, não haveria espaço para produtos financeiros, bolsas de valores e mercadorias. 

Esta crise não está restrita ao mercado financeiro. Ela é estrutural, está distribuida pela cadeia produtiva na mesma medida em que os investimentos migraram do mercado formal financeiro para o mercado de commodityes, que interferem além do suprimento financeiro das necessidades de empreendedores e passam a ditar a performance de segmentos produtivos inteiros. O que há nesse instante é um mega desajuste deste complexo sistema, criado pelos derivativos irracionais que tentaram artificialmente multiplicar o capital real à disposição dos mercados.

Por tratar-se de uma crise inédita, estão tardando os diagnósticos mais abrangentes, mesmo porque os mesmos gurus que foram incapazes de prevê-la , freneticamente tentam explicá-la.

A crise é do que convencionaram chamar de globalização. A globalização, este mecanismo complexo que tentou controlar os mercados mundiais em termos globais, está fazendo água. De tão simples parece ridículo, mas é tão abrangente que foge aos olhos dos cabeças de planilha que ocupam os cargos de economistas chefes das principais instituições financeiras, governantes e "especilistas". Estamos diante de um problema que está relacionado diretamente a economia real e não podemos tratá-la como uma crise financeira. As respostas à crise estão sendo balizadas em função das repercusões dentro das fronteiras dos países, dando o primeiro passo para a inversão da globalização e a volta ao tradicional comércio multilateral entre países. Então estamos diante de uma crise de valores que questiona a globalização em sí. Não é uma crise de credibilidade em instituições financeiras, mas de mecanismos de controle nacionais e mundiais. Estamos diante de um novo paradigma, e da formação de uma nova geopolítica e uma nova geoeconomia.

A crise já permeou o comércio exterior, a agricultura, a indústria , o comércio e os serviços e os seus reflexos vão se sentir através da drástica redução de atividade econômica e receitas de impostos. Na contramão o governo brasileiro, em função direta das eleições municipais de Outubro, deixou de exercer os mecanismos de defesa, quando publicamente não identificou a gravidade da crise, apesar de ser conhecida dentro do Palácio do Planalto sua extensão.

O equívoco de posicionamento deve-se em parte ao desconhecimento de causa realmente, em parte ao amadorismo com que foi tratada a situação, e em grande parte por falta de liderança. Em sua primeira crise durante todo o seu governo, Lula mostra o seu despreparo ao bradar ao mundo uma suposta impermeabilidade à crise, tendo como partida uma reserva de 200 bilhões de dólares, diante do derretimento de trilhões de dólares em patrimônio. Ou é ingenuidade ou despreparo. Ou as duas alternativas em conjunto, não há outra possibilidade, e fico com a terceira alternativa.

Lula agora entende o dilema de enfrentar uma crise de grandes proporções e o porque da necessidade de uma política econômica austera. Reluta ainda em fazer o que de imediato deveria estar fazendo, o corte nas despesas públicas, a informação da gravidade à população e o imediato rompimento entre o cidadão que ocupa o cargo de presidente da república e o político.

Diante da extensão e duração da crise, que certamente ultrapassa o seu mandato, que certamente demandará a união de todos os políticos, empresários e cidadãos para esforços em comum, espera-se uma atitude à altura do presidente da reública.

É uma questão de ser ou não ser estadista. 

Luis Stefano Grigolin

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