terça-feira, 14 de outubro de 2008

Os fundamentos da crise não são sólidos

Por mais que tenha me esforçado para entender as explicações de um sem número de economistas sobre as responsabilidades da crise, não vejo uma explicação plausível.

Há de fato um prejuízo incomensurável a um número desconhecido de investidores e cidadãos que estão pagando a conta via governos de seus países. Se há prejuízo de um lado, há ganhadores de outro. É preciso, portanto, identificar os ganhadores e deles cobrar, direta ou indiretamente, parte desses prejuízos socializados. É preciso identificar as autoridades que por omissão, deixaram a frouxidão regulatória atingir quem investia e agora quem sequer investia.

Se não há como tipificar financeiramente e economicamente estes eventos, o direito é farto em definições. Enriquecimento ilícito, ou sem causa, estelionato, omissão, fraude, especulação, e por aí vai uma romaria de termos que se enquadram.

O que não pode haver é dois pesos e duas medidas. O capital especulativo tem se mostrado tão danoso que deveria ser tipificado criminalmente. Se um ladrão de galinha lhe subtrai algo de seu galinheiro há tipificação e pena. Se um banqueiro de investimento com bônus anual milionário lhe vende papéis sem o mínimo lastro, mesmo dentro das "regras" e lhe causa dano, é igualmente culpado. O que muda é a forma e a sofisticação do delito. Se este delito torna-se de tal sorte potencial que passa a atingir indistintamente, os cidadãos, os investidores, as instituições e os governos, a gravidade do delito está aí configurada.

Se tenho dificuldade em entender as explicações dos economistas não tenho dificuldade nenhuma em tipificar como crime, ato que igualmente lesem quem quer que seja.

É uma questão de bom senso.

Ou organizam o caos ou nos locupletemos todos desta baderna financeira. Eu quero minha parte em dinheiro, não aceito títulos!


Luís Stefano Grigolin

domingo, 12 de outubro de 2008

A origem da crise é muito além do sub prime

É impossível querer separar o mercado financeiro do mundo real da economia, na indústria, no comércio, no agronegócio e nos serviços. Praticamente todos os negócios dependem do fluxo de capitais do mercado financeiro, assim como a recíproca é verdadeira. Sem o movimento da economia real, aquela que efeivamente produz mercadorias e serviços, não haveria espaço para produtos financeiros, bolsas de valores e mercadorias. 

Esta crise não está restrita ao mercado financeiro. Ela é estrutural, está distribuida pela cadeia produtiva na mesma medida em que os investimentos migraram do mercado formal financeiro para o mercado de commodityes, que interferem além do suprimento financeiro das necessidades de empreendedores e passam a ditar a performance de segmentos produtivos inteiros. O que há nesse instante é um mega desajuste deste complexo sistema, criado pelos derivativos irracionais que tentaram artificialmente multiplicar o capital real à disposição dos mercados.

Por tratar-se de uma crise inédita, estão tardando os diagnósticos mais abrangentes, mesmo porque os mesmos gurus que foram incapazes de prevê-la , freneticamente tentam explicá-la.

A crise é do que convencionaram chamar de globalização. A globalização, este mecanismo complexo que tentou controlar os mercados mundiais em termos globais, está fazendo água. De tão simples parece ridículo, mas é tão abrangente que foge aos olhos dos cabeças de planilha que ocupam os cargos de economistas chefes das principais instituições financeiras, governantes e "especilistas". Estamos diante de um problema que está relacionado diretamente a economia real e não podemos tratá-la como uma crise financeira. As respostas à crise estão sendo balizadas em função das repercusões dentro das fronteiras dos países, dando o primeiro passo para a inversão da globalização e a volta ao tradicional comércio multilateral entre países. Então estamos diante de uma crise de valores que questiona a globalização em sí. Não é uma crise de credibilidade em instituições financeiras, mas de mecanismos de controle nacionais e mundiais. Estamos diante de um novo paradigma, e da formação de uma nova geopolítica e uma nova geoeconomia.

A crise já permeou o comércio exterior, a agricultura, a indústria , o comércio e os serviços e os seus reflexos vão se sentir através da drástica redução de atividade econômica e receitas de impostos. Na contramão o governo brasileiro, em função direta das eleições municipais de Outubro, deixou de exercer os mecanismos de defesa, quando publicamente não identificou a gravidade da crise, apesar de ser conhecida dentro do Palácio do Planalto sua extensão.

O equívoco de posicionamento deve-se em parte ao desconhecimento de causa realmente, em parte ao amadorismo com que foi tratada a situação, e em grande parte por falta de liderança. Em sua primeira crise durante todo o seu governo, Lula mostra o seu despreparo ao bradar ao mundo uma suposta impermeabilidade à crise, tendo como partida uma reserva de 200 bilhões de dólares, diante do derretimento de trilhões de dólares em patrimônio. Ou é ingenuidade ou despreparo. Ou as duas alternativas em conjunto, não há outra possibilidade, e fico com a terceira alternativa.

Lula agora entende o dilema de enfrentar uma crise de grandes proporções e o porque da necessidade de uma política econômica austera. Reluta ainda em fazer o que de imediato deveria estar fazendo, o corte nas despesas públicas, a informação da gravidade à população e o imediato rompimento entre o cidadão que ocupa o cargo de presidente da república e o político.

Diante da extensão e duração da crise, que certamente ultrapassa o seu mandato, que certamente demandará a união de todos os políticos, empresários e cidadãos para esforços em comum, espera-se uma atitude à altura do presidente da reública.

É uma questão de ser ou não ser estadista. 

Luis Stefano Grigolin

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Fundo soberano do Brasil

A criação de um fundo soberano cogitada pelo Ministro da Fazenda Guido Mantega é mais um destes monstros em que a criatura e o criador se confundem.
Reservas acima de 200 bilhões de dólares são bem vindas, são âncoras do posicionamento externo do país, representam um expressivo saldo acumulado entre as transações do país, mas definitivamente não autorizam o governo detentor de uma dívida miobiliária pública trilionária, a querer formar um esdrúxulo fundo soberano em dólares, com meia dúzia de patacas, que não vão ser expressivas no mercado global.
Apoiar empresas no exterior não é o caso tendo em vista a disponibilidade destes recursos no exterior para empresas que o mereçam.
A concepção desta idéia, imagino eu, está associada aos vultosos fundos soberanos de países produtores de petróleo e da China, que tem efetivamente dinheiro sobrando em caixa.
Manter um fundo em dólares quando se deve em real, valorizado cambialmente e pagando taxa de juros estratosférica é dar um tiro no pé. Se tem excesso de arrecadação e divisas paguem parte da dívida.
Esta altura do campeonato o empolgado Ministro da Fazenda já deve ter recebido vários conselhos ao pé do ouvido e muitos tapinhas nas costas o aconselhando a demover-se da idéia medíocre, precipitada e até esnobe.
As exportaçãoes que crescem em volume financeiro pela elevação do preço das commodities, recua em quantidade de bens exportados.
Se isso não bastasse como uma sinalização escandalosa de que se deve ter cautela, a balança comercial não dá sinais de vigor de outros tempos.
Com a inflação rondando os índices, depois de literalmente ter chegado de fato ao consumo, forçando uma alta de juros pelo Banco Central, a medida torna-se risível.
Desde que assumiu o cargo com a incumbência de substituir Palocci, Mantega não deu mostras de seu potencial.
Não é a primeira ação inadvertida que anuncia e tem que recuar. Deixa transparecer que a metodologia da Fazenda é a da tentativa / erro.
É o primeiro Ministro da Fazenda da história que deixa os analistas de mercado titubeantes nas suas posições, por não saberem se a diretriz deva se manter ou não.
É enigmático, pois pode ser desautorizado ou mesmo contrariado, como já foi pelo presidente lula. Questionado por formadores de opinião é à todo momento. Mais dois anos assim, eu creio que não se sustenta, e reinaugura a fase de fritura de ministros da fazenda.
Mantega foi agraciado com o melhor período de crescimento mundial que o país já experimentou, e que um detentor deste cargo teve, na história do Ministério da Fazenda. Nem por isso vai deixar o cargo consagrado. Não basta ter cara de conteúdo.
Alcançar o grau de investimento, claramente não está associado ao seu desempenho. Parece-me uma questão de inércia, uma vez que os fundamentos economicos sólidos, com os quais verbaliza insistentemente em todas as ocasiões que se apresenta um microfone à sua frente, foi idealizado e realizado no governo anterior, tendo o mérito apenas de tê-los mantido, aliás, um compromisso do presidente Lula na Carta aos Brasileiros.
O PT estuda uma saída honrosa para o ministro nesta sinuca de bico, e Mantega tem a opção de aproveitar e sair à francesa, candidatando-se a cargo eletivo, quem sabe, possivelmente à prefeito da cidade de São Paulo pelo PT, já que a Ministra do Turismo está exitante e poderá deixar uma brecha, pois de qualquer forma, com qualquer nome, o PT perderia mesmo. O episódio que envolveu o assessor de Mercadante no dossiê contra Serra ainda está muito vivo na população paulista.
Desculpe-me, mas Mantega tem o perfil acadêmico que se encaixaria em algum organismo econômico internacional, mas lhe falta o tino para ministro da fazenda. É o tal negócio, se fosse cargo eletivo, certamente não o ocuparia, não como meu voto!
Luís Stefano Grigolin

INTERACTIVE PRESS

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