A criação de um fundo soberano cogitada pelo Ministro da Fazenda Guido Mantega é mais um destes monstros em que a criatura e o criador se confundem.
Reservas acima de 200 bilhões de dólares são bem vindas, são âncoras do posicionamento externo do país, representam um expressivo saldo acumulado entre as transações do país, mas definitivamente não autorizam o governo detentor de uma dívida miobiliária pública trilionária, a querer formar um esdrúxulo fundo soberano em dólares, com meia dúzia de patacas, que não vão ser expressivas no mercado global.
Apoiar empresas no exterior não é o caso tendo em vista a disponibilidade destes recursos no exterior para empresas que o mereçam.
A concepção desta idéia, imagino eu, está associada aos vultosos fundos soberanos de países produtores de petróleo e da China, que tem efetivamente dinheiro sobrando em caixa.
Manter um fundo em dólares quando se deve em real, valorizado cambialmente e pagando taxa de juros estratosférica é dar um tiro no pé. Se tem excesso de arrecadação e divisas paguem parte da dívida.
Esta altura do campeonato o empolgado Ministro da Fazenda já deve ter recebido vários conselhos ao pé do ouvido e muitos tapinhas nas costas o aconselhando a demover-se da idéia medíocre, precipitada e até esnobe.
As exportaçãoes que crescem em volume financeiro pela elevação do preço das commodities, recua em quantidade de bens exportados.
Se isso não bastasse como uma sinalização escandalosa de que se deve ter cautela, a balança comercial não dá sinais de vigor de outros tempos.
Com a inflação rondando os índices, depois de literalmente ter chegado de fato ao consumo, forçando uma alta de juros pelo Banco Central, a medida torna-se risível.
Desde que assumiu o cargo com a incumbência de substituir Palocci, Mantega não deu mostras de seu potencial.
Não é a primeira ação inadvertida que anuncia e tem que recuar. Deixa transparecer que a metodologia da Fazenda é a da tentativa / erro.
É o primeiro Ministro da Fazenda da história que deixa os analistas de mercado titubeantes nas suas posições, por não saberem se a diretriz deva se manter ou não.
É enigmático, pois pode ser desautorizado ou mesmo contrariado, como já foi pelo presidente lula. Questionado por formadores de opinião é à todo momento. Mais dois anos assim, eu creio que não se sustenta, e reinaugura a fase de fritura de ministros da fazenda.
Mantega foi agraciado com o melhor período de crescimento mundial que o país já experimentou, e que um detentor deste cargo teve, na história do Ministério da Fazenda. Nem por isso vai deixar o cargo consagrado. Não basta ter cara de conteúdo.
Alcançar o grau de investimento, claramente não está associado ao seu desempenho. Parece-me uma questão de inércia, uma vez que os fundamentos economicos sólidos, com os quais verbaliza insistentemente em todas as ocasiões que se apresenta um microfone à sua frente, foi idealizado e realizado no governo anterior, tendo o mérito apenas de tê-los mantido, aliás, um compromisso do presidente Lula na Carta aos Brasileiros.
O PT estuda uma saída honrosa para o ministro nesta sinuca de bico, e Mantega tem a opção de aproveitar e sair à francesa, candidatando-se a cargo eletivo, quem sabe, possivelmente à prefeito da cidade de São Paulo pelo PT, já que a Ministra do Turismo está exitante e poderá deixar uma brecha, pois de qualquer forma, com qualquer nome, o PT perderia mesmo. O episódio que envolveu o assessor de Mercadante no dossiê contra Serra ainda está muito vivo na população paulista.
Desculpe-me, mas Mantega tem o perfil acadêmico que se encaixaria em algum organismo econômico internacional, mas lhe falta o tino para ministro da fazenda. É o tal negócio, se fosse cargo eletivo, certamente não o ocuparia, não como meu voto!
Luís Stefano Grigolin